O ChatGPT, robô virtual que faz uso de Inteligência Artificial, indica que a produção de textos sobre muitos assuntos será tarefa das mais básicas.
Há 20 anos, quando ingressei na faculdade de jornalismo, a habilidade de redigir textos figurava entre as mais importantes da profissão.
À época, o texto e a imagem eram um casal feliz. Tinham lá seus desentendimentos, mas viviam bem e com bastante comunhão. Por vezes, havia momentos quando apenas um estava a contar o que se passara. Sim, uma imagem valia mais do que muitas palavras, mas vocábulos bem posicionados eram capazes de trazer à tona memórias como as feitas por máquinas fotográficas.
Com a revolução das tecnologias, o vídeo e o áudio deixaram de ser quase exclusividade dos profissionais de imprensa e, a uma velocidade assombrosa, passaram a reinar no mundo da comunicação humana.
Qualquer pessoa em posse de um smartphone pode gravar um vídeo, registrar a própria voz por meio de aplicativos e compartilhá-la com um sem número de pessoas. Produzir um texto bem escrito sobre determinado assunto parecia, mesmo em tempos de intensa transformação digital, tarefa dos mais letrados e treinados.
O ChatGPT, robô virtual que faz uso de Inteligência Artificial, indica que a produção de textos sobre muitos assuntos será tarefa das mais básicas.
A partir do Aprendizado por Máquina (Machine Learning), dados são analisados por computadores, padrões são categorizados, decisões são tomadas e tudo pode ser ocorrer como se por obra humana fosse.
A empresa responsável pelo serviço aposta na tendência e já anunciou sua versão paga do serviço, com tempo de espera reduzido e respostas mais ágeis.
Não demorou muito para que uma gigante da tecnologia entrasse no páreo. O Google anunciou o Apprentice Bard, seu chatbot com linguagem natural podendo, inclusive, estar integrado ao famoso buscador de internet.
Mas, esses robôs escrevem sobre tudo?
Quase tudo, na minha opinião.
Eles não são capazes de relatar em texto um acidente em tempo real, as feições do jogador de futebol que acaba de levantar o troféu de campeão ou como estava vestida a herdeira do trono da Holanda, Catharina-Amalia.
Como quaisquer outros, os robôs produtores de texto não possuem consciência, não detém singularidade, só fazem o que foram programados para fazer e não podem desobedecer ao algoritmo.
São máquinas com capacidade computacional absurda, mas que dependem de programadores humanos e limitados.
No final dos anos 1990, uma banda virtual parecia prefigurar a revolução 4.0. “Gorilazz” tinha como membros desenhos animados e fez bastante sucesso. Todavia, havia pessoas produzindo tudo nos bastidores, como as vozes e os instrumentos.
Atualmente, é possível substituir tudo por inteligência artificial, inclusive o vocalista e as letras das canções. Mas sempre haverá a necessidade de um humano programador. A Era de Ultron ainda está restrita aos filmes da franquia “Os Vingadores”.
Trata-se de uma ferramenta com elevado potencial de uso para diversas situações, mas não estamos a falar do fim dos escritores e sim da reinvenção e reposicionamento de muitos postos de trabalho. Matemáticos não desapareceram com o advento da calculadora. Não creio que ocorrerá o mesmo com os profissionais do texto escrito.
Haverá questões éticas muito em breve, especialmente as que envolvam a comprovação de autoria. A quem pertencerá o direito de propriedade intelectual de poema vencedor de prêmio literário ou de música indicada ao Grammy quando ambos forem produzidos por robôs?
Com a palavra, o futuro.
Autor: Edmar Araujo, presidente executivo da Associação das Autoridades de Registro do Brasil (AARB). MBA em Transformação Digital e Futuro dos Negócios, jornalista.
Fonte: Estadão