A importância da Contabilidade na tragédia do Rio Grande do Sul

A importância da Contabilidade na tragédia do Rio Grande do Sul

Qual é o custo de um desastre natural como o que devastou o Rio Grande do Sul nos últimos dias? Tanto o governo estadual quanto o federal estão alocando recursos para a reconstrução das cidades afetadas pelas enchentes. Mas de onde vêm os números que orientam essa distribuição de verbas? Qual é a importância da Contabilidade diante desse tipo de catástrofe? Segundo especialistas em Contabilidade e Economia, ainda não é possível determinar um valor exato dos danos causados nos 461 municípios afetados, conforme dados da Defesa Civil Estadual. É importante destacar que o Rio Grande do Sul possui 497 municípios, sendo a capital, Porto Alegre, a mais populosa, com 1,3 milhão de habitantes.

A Confederação Nacional dos Municípios-CNM estimava, no dia 18 de maio, um prejuízo de R$ 9,6 bilhões. Esse valor diz respeito a apenas 85 cidades que começaram a inserir as perdas públicas e privadas. Os dados dessa data, portanto, indicam 155 óbitos, 445 pessoas desaparecidas e 735,5 mil indivíduos desalojados ou desabrigados. Em relação aos danos financeiros, o setor habitacional foi o mais afetado, acumulando um impacto de R$ 4,6 bilhões. Deste total, R$ 2,3 bilhões são atribuídos ao setor público, enquanto R$ 2,7 bilhões estão relacionados ao setor privado, havendo um montante de R$ 2 bilhões específico para perdas na agricultura.

Enquanto a água não for completamente drenada, a extensão do que foi perdido não poderá ser estimada. É assim que os recursos estão sendo enviados. Existem casos em que os cálculos são mais precisos. Por exemplo, o governo do Rio Grande do Sul anunciou uma destinação de R$ 118 milhões para a reconstrução das estradas no Estado. Essa estimativa é mais precisa porque é possível calcular por quilômetro e contabilizar quantas estradas foram destruídas.

Análise do cenário atual

A verdade é que as enchentes no Rio Grande do Sul estão tendo um impacto devastador em vários setores da economia, não apenas a nível regional, mas também nacional. Empresas de diversos segmentos enfrentam desafios significativos devido aos danos causados pelas inundações e às interrupções nas operações. Para compreender melhor como isso afetará empreendedores, microempresários e empresários, a Revista Mensário do Contabilista buscou os especialistas em gestão de negócios Aleksander Avalca e Renan Kaminski da consultoria 4blue, a fim de construir uma análise do cenário atual.

“Sempre falamos que a questão não é ‘se’, mas ‘quando’ haverá uma nova crise. Os gaúchos estão passando por uma crise maior do que enfrentaram na pandemia. Naquela época, parte das empresas conseguiu se manter minimamente em operação, mas agora muitas empresas perderam todos os seus ativos e tantas outras estão sem conseguir operar”, explica Aleks Avalca, CEO da 4blue e professor do Instituto Superior de Administração e Economia do Mercosul-ISAE/FGV.

O estado do Rio Grande do Sul é reconhecido como uma das principais bases econômicas do País, com sua produção agrícola sendo um dos pilares fundamentais. No entanto, as recentes enchentes comprometeram as plantações e afetaram toda a cadeia de suprimentos, desde o cultivo até a distribuição dos produtos agrícolas. Isso resultou em perdas substanciais para os agricultores, que agora enfrentam dificuldades para escoar sua produção e atender à demanda do mercado.

Além do setor agrícola e pecuário, indústrias, comércio e prestação de serviços estão sofrendo igualmente os efeitos das enchentes. Empresas de logística e transporte encontram dificuldades para movimentar mercadorias devido à destruição de estradas e infraestrutura viária. Isso afeta a economia local e também gera efeito cascata em todo o País, uma vez que o Rio Grande do Sul desempenha um papel crucial na distribuição de produtos para outras regiões.

Bola de neve

“O Rio Grande do Sul tem a 5ª maior economia do País. Isso significa que, mesmo sem saber, todos nós somos impactados direta ou indiretamente por produtos e serviços que são produzidos em território do RS. Esta queda drástica no PIB gaúcho fará com que todo o PIB brasileiro caia, podendo ter efeitos negativos na inflação e nas contas públicas como um todo”, explica Aleks Avalca.

Outro setor fortemente afetado, na visão de Renan Kaminski, especialista em gestão de PME’s e uma das pessoas + influentes da tecnologia no Brasil em 2023. é o de pequenas empresas e empreendedores individuais. Isso porque muitos desses negócios dependem da estabilidade econômica e da infraestrutura funcional para prosperar. “Com as enchentes, muitos desses empreendimentos enfrentarão danos físicos às suas instalações, assim como perda de clientes e receitas devido à interrupção das operações”.

Um dos fatores que formam a base para uma empresa sólida é ter uma reserva financeira de, pelo menos, 4 meses mas quanto mais melhor. Neste caso, as empresas que estavam preparadas, mesmo sofrendo bastante para se reconstruir, conseguirão se reerguer com resiliência. No entanto, aquelas que não tinham uma reserva financeira, infelizmente, será muito difícil arcar com todos os prejuízos para retomarem a operação. Para entender melhor o impacto dessas enchentes na economia brasileira, é crucial examinar os danos imediatos e as repercussões em longo prazo, destaca Renan Kaminski.

A importância da Contabilidade

“Constatamos que esse desastre não é um fato isolado. Já aconteceu em menor proporção há pouco tempo e pode acontecer de novo no futuro”, explica Renan Kaminski, enfatizando que, diante dessa realidade, reconstruir é importante “porque estamos falando de milhões de vidas”, mas pensando no ponto de vista do empreendedorismo, é aconselhável que os empresários se voltem mais para a gestão do seu próprio negócio. E nesse ponto a Contabilidade se faz muito importante. “A segurança empresarial é boa para o dono e para todos os colaboradores e famílias que dependem do negócio”.

Estratégias de gestão de riscos, planejamento fiscal e econômico e planos de contingência tornam-se muito importantes em situações de crise, onde eventos climáticos extremos podem ter impactos significativos na atividade financeira das pessoas jurídicas. Além disso, políticas governamentais que visam fornecer apoio financeiro e incentivos fiscais para empresas prejudicadas podem desempenhar um papel crucial na recuperação econômica. “Nesse momento, tudo o que for feito para ajudar é muito válido e útil. Quando você colabora com a retomada dos negócios locais, você está também recuperando os empregos de toda uma comunidade, assim a economia volta a girar e as vidas voltam a caminhar para frente.

Desta forma, o povo gaúcho conseguirá superar esse momento tão difícil de sua história”, pondera Aleks Avalca. “À medida que o Brasil enfrenta os desafios colocados pelas enchentes no Rio Grande do Sul, é essencial que todos os setores da sociedade, incluindo governos, empresas e organizações da sociedade civil, trabalhem juntos para mitigar os danos e construir uma base mais sólida para o futuro. Através da colaboração e do planejamento estratégico, é possível superar esses desafios e criar uma economia mais resiliente e sustentável para todos”, reforça a especialista.

Prazos prorrogados

Os prazos de pagamento das parcelas do Simples Nacional para contribuintes com matriz no Rio Grande do Sul foram prorrogados. Além disso, as datas limites de cumprimento de várias obrigações, como a Declaração Anual Simplificada para o MEI-DAS-Simei, referente ao ano-calendário 2023, a DASN-Simei e Declaração de Informações Socioeconômicas e Fiscais (Defis), de situação especial ocorrida até 31 de maio de 2024, referente ao ano-calendário 2024, bem como a declaração do Imposto de Renda da Pessoa Física, foram estendidas de 31 de maio para 31 de agosto.

Essas medidas trouxeram um pouco de alívio para os profissionais da Contabilidade. Contadores e escritórios enfrentaram muitas preocupações para cumprir suas obrigações em meio à tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul nos últimos dias. Arquivos, sistemas e locais de trabalho foram perdidos. Diante dessas dificuldades, entidades representativas da classe contábil de todo o País estão se unindo para apoiar a população afetada e fornecer suporte para que os profissionais possam voltar a exercer suas atividades.

Dificuldade contábil

Prova disso é que o Conselho Federal de Contabilidade-CFC, a Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícia, Informações e Pesquisas-Fenacon e o Instituto de Auditoria Independente do Brasil-Ibracon enviaram um comunicado oficial, no dia 16 de maio, à Receita Federal do Brasil, solicitando a extensão do prazo de entrega das obrigações acessórias em virtude do estado de calamidade no Rio Grande do Sul.

No comunicado, as entidades ressaltam que a prorrogação de prazos, ao não abranger todo o estado, tem causado dificuldades aos profissionais contábeis, que atualmente utilizam tecnologia para atender clientes em diversos municípios, estados e até mesmo outros países. “A inclusão de todas as cidades do Rio Grande do Sul na prorrogação é de extrema importância devido às dificuldades enfrentadas pelos profissionais contábeis para atender seus clientes em todos os municípios gaúchos, independentemente de estarem ou não incluídos nos decretos mencionados”, diz a nota.

Igualmente, as Entidades Congraçadas da Contabilidade do Estado de São Paulo, onde o Sindicato dos Contabilistas de São Paulo-Sindcont-SP está inserido, têm dado todo apoio às ações dos órgãos federais e também têm se mobilizado no sentido humanitário e de arrecadação de fundos, com vistas a minimizar os estragos provocados pelo desastre aos irmãos do Rio Grande no Sul.

Fonte/Pubicação: Sindicato dos Contabilistas de São Paulo – Sindcont-SP